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__NOTOC__ | __NOTOC__{{título|''Teses sobre Feuerbach'', de Karl Marx}}{{Obra bibliográfica | ||
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}}As '''Teses sobre Feuerbach''' (em alemão: '''''Thesen über Feuerbach''''') são onze curtas notas filosóficas escritas por Karl Marx (provavelmente) em 1845. Eles explicitam a crítica das ideias de Marx sobre seu colega filósofo jovem hegeliano, Ludwig Feuerbach. Mas o texto é comumente visto como mais ambicioso do que isso, criticando o materialismo contemplativo dos Jovens Hegelianos juntamente com todas as formas de idealismo filosófico. | }}As '''Teses sobre Feuerbach''' (em alemão: '''''Thesen über Feuerbach''''') são onze curtas notas filosóficas escritas por Karl Marx (provavelmente) em 1845. Eles explicitam a crítica das ideias de Marx sobre seu colega filósofo jovem hegeliano, Ludwig Feuerbach. Mas o texto é comumente visto como mais ambicioso do que isso, criticando o materialismo contemplativo dos Jovens Hegelianos juntamente com todas as formas de idealismo filosófico. | ||
===I=== | |||
A principal insuficiência de todo o materialismo até aos nossos dias - o de Feuerbach incluído - é que as coisas, a realidade, o mundo sensível são tomados apenas sobre a forma do ''objeto'' ou da contemplação; mas não como ''atividade sensível humana'', ''práxis'', não subjetivamente. Por isso aconteceu que o lado ''ativo'' foi desenvolvido, em oposição ao materialismo, pelo idealismo - mas apenas abstratamente, pois que o idealismo naturalmente não conhece a atividade sensível, real, como tal. Feuerbach quer objetos sensíveis realmente distintos dos objetos do pensamento; mas não toma a própria atividade humana como atividade objetiva. Ele considera, por isso, na ''Essência do cristianismo'', apenas a atitude teórica como a genuinamente humana, ao passo que a práxis é tomada e fixada apenas na sua forma de manifestação sórdida e judaica. Não compreende, por isso, o significado da atividade "revolucionária", de crítica prática. | |||
=== II === | |||
A questão de saber se ao pensamento humano pertence a verdade objectiva não é uma questão da teoria, mas uma questão ''prática''. É na práxis que o ser humano tem de comprovar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o carácter terreno do seu pensamento. A disputa sobre a realidade ou não realidade de um pensamento que se isola da práxis é uma questão puramente ''escolástica''. | |||
=== III === | |||
A doutrina materialista de que os seres humanos são produtos das circunstâncias e da educação, [de que] seres humanos transformados são, portanto, produtos de outras circunstâncias e de uma educação mudada, esquece que as circunstâncias são transformadas precisamente pelos seres humanos e que o educador tem ele próprio de ser educado. Ela acaba, por isso, necessariamente, por separar a sociedade em duas partes, uma das quais fica elevada acima da sociedade (por exemplo, em Robert Owen). | |||
A coincidência do mudar das circunstâncias e da atividade humana só pode ser tomada e racionalmente entendida como ''práxis revolucionária''. | |||
=== IV === | |||
Feuerbach parte do fato da auto-alienação religiosa, da duplicação do mundo no mundo religioso, representado, e num real. O seu trabalho consiste em resolver o mundo religioso na sua base mundana. Ele perde de vista que depois de completado este trabalho ainda fica por fazer o principal. É que o fato de esta base mundana se destacar de si própria e se fixar, um reino autônomo, nas nuvens, só se pode explicar precisamente pela autodivisão e pelo contradizer-se a si mesma desta base mundana. É esta mesma, portanto, que tem de ser primeiramente entendida na sua contradição e depois praticamente revolucionada por meio da eliminação da contradição. Portanto, depois de, por exemplo a família terrena estar descoberta como o segredo da sagrada família, é a primeira que tem, então, de ser ela mesma teoricamente criticada e praticamente revolucionada. | |||
=== V === | |||
Feuerbach, não contente com o ''pensamento abstrato'', apela ao ''conhecimento sensível''; mas, não toma o mundo sensível como atividade humana sensível ''prática''. | |||
=== VI === | |||
Feuerbach resolve a essência religiosa na essência ''humana''. Mas, a essência humana não é uma abstração inerente a cada indivíduo. Na sua realidade ela é o conjunto das relações sociais. | |||
Feuerbach, que não entra na crítica desta essência real, é, por isso, obrigado: | |||
# a abstrair do processo histórico e fixar o sentimento religioso por si e a pressupor um indivíduo abstratamente - ''isoladamente'' - humano; | |||
# nele, por isso, a essência humana só pode ser tomada como "espécie", como generalidade interior, muda, que liga apenas ''naturalmente'' os muitos indivíduos. | |||
=== VII === | |||
Feuerbach não vê, por isso, que o próprio "sentimento religioso" é um ''produto social'' e que o indivíduo abstrato que analisa pertence na realidade a uma determinada forma de sociedade. | |||
=== VIII === | |||
A vida social é essencialmente ''prática''. Todos os mistérios que seduzem a teoria para o misticismo encontram a sua solução racional na práxis humana e no compreender desta práxis. | |||
=== IX === | |||
O máximo que o materialismo contemplativo consegue, isto é, o materialismo que não compreende o mundo sensível como atividade prática, é a visão dos indivíduos isolados na "sociedade civil". | |||
=== X === | |||
O ponto de vista do antigo materialismo é a sociedade "''civil''"; o ponto de vista do novo [materialismo é] a sociedade ''humana'', ou a humanidade socializada. | |||
=== XI === | |||
Os filósofos têm apenas ''interpretado'' o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é ''transformá-lo''. |
Edição atual tal como às 03h38min de 4 de janeiro de 2021
Aviso: O título exibido "<i>Teses sobre Feuerbach</i>" substituí o título anterior "<i>Teses sobre Feuerbach</i>, de Karl Marx".
Teses sobre Feuerbach | |
---|---|
Escrito em | 1845 |
Publicado 1ª vez | 1888, num apêndice de Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã (segunda edição) |
Tipo | Notas filosóficas |
Fonte | Marxists Internet Archive |
As Teses sobre Feuerbach (em alemão: Thesen über Feuerbach) são onze curtas notas filosóficas escritas por Karl Marx (provavelmente) em 1845. Eles explicitam a crítica das ideias de Marx sobre seu colega filósofo jovem hegeliano, Ludwig Feuerbach. Mas o texto é comumente visto como mais ambicioso do que isso, criticando o materialismo contemplativo dos Jovens Hegelianos juntamente com todas as formas de idealismo filosófico.
I
A principal insuficiência de todo o materialismo até aos nossos dias - o de Feuerbach incluído - é que as coisas, a realidade, o mundo sensível são tomados apenas sobre a forma do objeto ou da contemplação; mas não como atividade sensível humana, práxis, não subjetivamente. Por isso aconteceu que o lado ativo foi desenvolvido, em oposição ao materialismo, pelo idealismo - mas apenas abstratamente, pois que o idealismo naturalmente não conhece a atividade sensível, real, como tal. Feuerbach quer objetos sensíveis realmente distintos dos objetos do pensamento; mas não toma a própria atividade humana como atividade objetiva. Ele considera, por isso, na Essência do cristianismo, apenas a atitude teórica como a genuinamente humana, ao passo que a práxis é tomada e fixada apenas na sua forma de manifestação sórdida e judaica. Não compreende, por isso, o significado da atividade "revolucionária", de crítica prática.
II
A questão de saber se ao pensamento humano pertence a verdade objectiva não é uma questão da teoria, mas uma questão prática. É na práxis que o ser humano tem de comprovar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o carácter terreno do seu pensamento. A disputa sobre a realidade ou não realidade de um pensamento que se isola da práxis é uma questão puramente escolástica.
III
A doutrina materialista de que os seres humanos são produtos das circunstâncias e da educação, [de que] seres humanos transformados são, portanto, produtos de outras circunstâncias e de uma educação mudada, esquece que as circunstâncias são transformadas precisamente pelos seres humanos e que o educador tem ele próprio de ser educado. Ela acaba, por isso, necessariamente, por separar a sociedade em duas partes, uma das quais fica elevada acima da sociedade (por exemplo, em Robert Owen).
A coincidência do mudar das circunstâncias e da atividade humana só pode ser tomada e racionalmente entendida como práxis revolucionária.
IV
Feuerbach parte do fato da auto-alienação religiosa, da duplicação do mundo no mundo religioso, representado, e num real. O seu trabalho consiste em resolver o mundo religioso na sua base mundana. Ele perde de vista que depois de completado este trabalho ainda fica por fazer o principal. É que o fato de esta base mundana se destacar de si própria e se fixar, um reino autônomo, nas nuvens, só se pode explicar precisamente pela autodivisão e pelo contradizer-se a si mesma desta base mundana. É esta mesma, portanto, que tem de ser primeiramente entendida na sua contradição e depois praticamente revolucionada por meio da eliminação da contradição. Portanto, depois de, por exemplo a família terrena estar descoberta como o segredo da sagrada família, é a primeira que tem, então, de ser ela mesma teoricamente criticada e praticamente revolucionada.
V
Feuerbach, não contente com o pensamento abstrato, apela ao conhecimento sensível; mas, não toma o mundo sensível como atividade humana sensível prática.
VI
Feuerbach resolve a essência religiosa na essência humana. Mas, a essência humana não é uma abstração inerente a cada indivíduo. Na sua realidade ela é o conjunto das relações sociais.
Feuerbach, que não entra na crítica desta essência real, é, por isso, obrigado:
- a abstrair do processo histórico e fixar o sentimento religioso por si e a pressupor um indivíduo abstratamente - isoladamente - humano;
- nele, por isso, a essência humana só pode ser tomada como "espécie", como generalidade interior, muda, que liga apenas naturalmente os muitos indivíduos.
VII
Feuerbach não vê, por isso, que o próprio "sentimento religioso" é um produto social e que o indivíduo abstrato que analisa pertence na realidade a uma determinada forma de sociedade.
VIII
A vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que seduzem a teoria para o misticismo encontram a sua solução racional na práxis humana e no compreender desta práxis.
IX
O máximo que o materialismo contemplativo consegue, isto é, o materialismo que não compreende o mundo sensível como atividade prática, é a visão dos indivíduos isolados na "sociedade civil".
X
O ponto de vista do antigo materialismo é a sociedade "civil"; o ponto de vista do novo [materialismo é] a sociedade humana, ou a humanidade socializada.
XI
Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo.