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Biblioteca:Princípios elementares de filosofia: mudanças entre as edições

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===O problema fundamental da filosofia===
===O problema fundamental da filosofia===
==== Como devemos começar o estudo da filosofia? ====
Na nossa introdução, dissemos, várias vezes, que a filosofia do materialismo dialético era a base do marxismo.
O fim a que nos propomos é o estudo dessa filosofia; mas, para chegar a ele, é preciso avançarmos por etapas.
Quando falamos do materialismo dialético, deparamo-nos com duas palavras: ''materialismo'' e ''dialético'', o que quer dizer que o materialismo é dialético. Sabemos que antes de Marx e Engels o materialismo existia já, mas que foram estes, com a ajuda das descobertas do século XIX, que o transformaram e criaram o materialismo “dialético”.
Examinaremos, mais tarde, o sentido da palavra “dialético”, que designa a forma moderna do materialismo. Mas, visto que, antes de Marx e Engels, houve filósofos materialistas (por exemplo, Diderot, no século XVIII), e visto que há pontos comuns em todos os materialistas, é-nos, pois, necessário estudar a ''história'' do materialismo, antes de abordar o materialismo dialético. É-nos preciso conhecer, igualmente, as concepções que se opõem ao materialismo.
==== Duas maneiras de explicar o mundo ====
Vimos que a filosofia é o “estudo dos problemas mais gerais”, e que tem por fim explicar o mundo, a natureza, o homem. Se abrirmos um manual de filosofia burguesa, ficamos espantados com o grande número de filosofias diversas que aí se encontram. São designadas por múltiplas palavras, mais ou menos complicadas, terminando em “ismo”: o criticismo, o evolucionismo, o intelectualismo, etc, e esta quantidade cria a confusão. A burguesia, aliás, nada fez para esclarecer a situação, antes pelo contrário. Mas, podemos já fazer a triagem de todos esses sistemas, e distinguir duas grandes correntes, duas concepções nitidamente opostas:
<ol style="list-style-type:lower-latin">
<li>A concepção científica.
<li>A concepção não científica do mundo.
</ol>
==== A matéria e o espírito ====
Quando os filósofos tentaram explicar o mundo, a natureza, o homem, tudo o que nos rodeia, enfim, foram levados a fazer distinções. Nós próprios constatamos que há coisas, objetos que são materiais, que vemos e tocamos. Depois, outras realidades que não vemos e não podemos tocar, nem medir, como as nossas ideias.
Classificamos, portanto, assim as coisas: por um lado, as que são materiais; por outro, as que não o são, e pertencem ao domínio do espírito, do pensamento, das ideias.
Foi assim que os filósofos se encontraram em presença da matéria e do espírito.
==== O que é a matéria? O que é o espírito? ====
Acabamos de ver, de uma maneira geral, como se foi levado a classificar as coisas, conforme são matéria ou espírito.
Mas devemos precisar que esta distinção se faz sob diversas formas e com palavras diferentes.
É assim que, em vez de falar do espírito, falamos, afinal, do pensamento, das nossas ideias, da nossa consciência, da alma, assim como, falando da natureza, do mundo, da terra, do ser, é da matéria que se trata.
Assim, ainda quando Engels, no seu livro ''[[Biblioteca:Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã|Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã]]'', fala do ser e do pensamento, o ser é a matéria; o pensamento, o espírito.
Para definir o que é o pensamento ou o espírito, o ser ou a matéria, diremos:
''O pensamento'' é a ideia que fazemos das coisas; algumas dessas ideias vêm-nos ordinariamente das nossas sensações e correspondem a objetos materiais; outras, como as de Deus, filosofia, infinito, do próprio pensamento, não correspondem a objetos materiais. O essencial, que devemos fixar aqui, é que temos ideias, pensamentos, sentimentos, porque vemos e sentimos.
''A matéria'' ou o ser é o que as nossas sensações e percepções nos mostram e apresentam, é, duma maneira geral, tudo o que nos rodeia, a que se chama o “mundo exterior”. Exemplo: a minha folha de papel é branca. Saber que é branca é uma ideia, e são os meus sentidos que me dão tal ideia. Mas a matéria é a própria folha.
É por isso que, quando os filósofos falam das relações entre o ser e o pensamento, ou entre o espírito e a matéria, ou entre a consciência e o cérebro, etc, tudo isso diz respeito à mesma pergunta, e significa: qual é, da matéria ou do espírito, do ser ou do pensamento, o termo mais importante? Qual é o que é anterior ao outro? Tal é a interrogação fundamental da filosofia.
==== A pergunta ou o problema fundamental da filosofia ====
Não há ninguém que não se tenha interrogado em que nos tornamos depois da morte, de onde vem o mundo, como se formou a Terra. E é-nos difícil admitir que sempre existiu qualquer coisa. Tem-se tendência em pensar que num dado momento nada haveria. É por isso que é mais fácil acreditar no que ensina a religião: “O espírito pairava sobre as trevas... depois veio a matéria”. Do mesmo modo, perguntamo-nos onde estão os nossos pensamentos, e, assim, põe-se-nos o problema das relações que existem entre o espírito e a matéria, entre o cérebro e o pensamento. Há, aliás, muitas outras maneiras de pôr a questão. Por exemplo, quais são as relações entre a vontade e o poder? A vontade é, aqui, o espírito, o pensamento; e o poder é o que é possível, é o ser, a matéria. Encontramos, assim, muitas vezes, a questão das relações entre a “consciência social” e a “existência social”.
A pergunta fundamental da filosofia apresenta-se, pois, sob diferentes aspectos, e vê-se quanto é importante reconhecer sempre a maneira em que se põe este problema das relações da matéria e do espírito, uma vez que sabemos que só pode haver duas respostas a essa pergunta:
# Uma resposta científica.
# Uma resposta não científica.
==== Idealismo ou materialismo ====
Foi assim que os filósofos foram levados a tomar posição nesta importante questão.
Os primeiros homens, completamente ignorantes, não tendo nenhum conhecimento do mundo, nem deles próprios, e não dispondo senão de fracos meios técnicos para agir sobre o mundo, atribuíam a seres sobrenaturais a responsabilidade de tudo o que os espantava. Na sua imaginação, excitada pelos sonhos em que viam viver os seus semelhantes e eles próprios, chegaram à concepção de que cada um de nós tinha uma dupla existência. Perturbados pela ideia deste “duplo”, chegaram a imaginar que os seus pensamentos e sensações eram produzidos, não pelo seu próprio corpo,<blockquote>''“mas por uma alma particular, habitando nesse corpo e deixando-o na hora da morte”<ref name=":0" group="1">[[Engels]]: ''[[Biblioteca:Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã|Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã]]''</ref>''</blockquote>Em consequência, nasceu a ideia da imortalidade da alma e de uma possível vida do espírito fora da matéria.
Do mesmo modo, a sua fraqueza, a inquietação perante as forças da natureza, face a todos esses fenômenos que não compreendiam, e que o estado da técnica não lhes permitia corrigir (germinação, tempestades, inundações, etc), levam-nos a supor que, por trás dessas forças, há seres onipotentes, “espíritos” ou “deuses” benéficos ou maléficos, mas, em todo o caso, caprichosos.
Por igual razão, criam em deuses, em seres mais poderosos do que os homens, mas imaginavam-nos, sob a forma de homens ou animais, como corpos materiais. É somente mais tarde que as almas e os deuses (depois o Deus único que substituiu os deuses) foram concebidos como puros espíritos.
Chega-se então à ideia de que há na realidade espíritos que têm uma vida inteiramente específica, completamente independente da dos corpos, e que não têm necessidade deles para existir.
Assim, tal assunto pôs-se de uma maneira mais precisa em função da religião, sob esta forma:<blockquote>''O mundo foi criado por Deus ou existe desde sempre?''
''Conforme respondiam desta ou daquela maneira a tal pergunta, os filósofos dividiam-se em duas grandes facções.''<ref name=":0" group="1" /></blockquote>Os que, adotando a explicação não científica, admitiam a criação do mundo por Deus, isto é, afirmavam que o espírito tinha criado a matéria, formavam a facção do idealismo.
Os outros, os que procuravam dar uma explicação científica do mundo, e pensavam que a natureza, a matéria era o elemento principal, pretendam às diferentes escolas do materialismo.
Na origem, estas duas expressões, idealismo e materialismo, não significavam outra coisa senão isso.
O idealismo e o materialismo dão, pois, duas respostas opostas e contraditórias ao problema fundamental da filosofia.
O idealismo é a concepção não-científica. O materialismo é a concepção científica do mundo.
Ver-se-á, mais adiante, as provas desta afirmação, mas podemos dizer, desde já, que: se se constata bem, na experiência, que há corpos sem pensamento, como as pedras, os metais, a terra, não se constata nunca, pelo contrário, a existência do espírito sem corpo.
Para terminar este capítulo com uma conclusão sem equívoco, veremos que, para responder a esta pergunta: como é que o homem pensa? não pode haver mais do que duas respostas, inteiramente diferentes e totalmente opostas:
# O homem pensa porque tem uma alma.
# O homem pensa porque tem um cérebro.
Conforme dermos uma ou outra resposta, estaremos preparados para dar soluções aos problemas que resultam desta questão.
Segundo a nossa resposta, seremos idealistas ou materialistas.


===O idealismo===
===O idealismo===

Edição atual tal como às 00h16min de 18 de janeiro de 2023

Prefácio

Este manual elementar transcreve as notas tomadas por um dos alunos de Georges Politzer nos cursos por ele professados na Universidade Operária, no ano escolar de 1935-36. Para, a propósito, compreender o seu caráter e alcance, é necessário precisar, em primeiro lugar, o objetivo e o método do nosso mestre.

Sabe-se que a Universidade Operária fora fundada em 1932 por um pequeno grupo de professores, para ensinar a ciência marxista aos trabalhadores manuais, dando-lhes um método de raciocínio que lhes permitisse compreender o nosso tempo, e orientando a sua ação, tanto na sua técnica, como no domínio político e social.

Desde o início, Georges Politzer encarregou-se de ensinar na Universidade Operária a filosofia marxista, o materialismo dialético: tarefa tanto mais necessária, uma vez que o ensino oficial continuava a ignorar ou a reproduzir inexatamente esta filosofia.

Nenhum dos que tiveram o privilégio de assistir a tais cursos - ele falava, em cada ano, para um numeroso auditório, onde se misturavam todas as idades e profissões, mas predominavam os jovens operários - esquecerá a profunda impressão que todos experimentavam em frente desse grande rapaz ruivo, tão entusiasta e sábio, tão consciencioso e fraterno, tão aplicado em pôr ao alcance de um público inexperiente uma matéria árida e ingrata.

A sua autoridade impunha ao curso uma disciplina agradável, que sabia ser severa, mas permanecia sempre justa, e desprendia-se da sua pessoa uma tal força de vida, um tal brilho, que era admirado e amado por todos os alunos.

Para melhor se fazer compreender, Politzer começava por suprimir do seu vocabulário toda a gíria filosófica, todos os termos técnicos que só os iniciados podem entender. Só desejava empregar palavras simples e conhecidas de todos. Quando era obrigado a utilizar um termo especial, não deixava de o explicar demoradamente, através de exemplos familiares. Se, nas discussões, algum dos seus alunos empregava termos eruditos, repreendia-o e troçava dele com aquela ironia mordaz que todos os que o contactaram bem conheciam.

Queria ser simples e claro, e fazia sempre apelo ao bom-senso, sem, contudo, jamais sacrificar algo da exatidão e da verdade das ideias e teorias que expunha. Sabia tornar os seus cursos extremamente vivos, fazendo participar o auditório em discussões, antes e depois da lição. Eis como procedia: no final de cada lição, dava o que ele chamava um ou dois temas de controlo; tinham por objeto resumir a lição, ou aplicar o seu conteúdo a qualquer assunto particular. Os alunos não eram obrigados a abordar o tema, mas muitos eram os que se obrigavam a isso, e traziam um trabalho escrito no início do curso seguinte. Perguntava, então, quem tinha feito o trabalho; levantávamos a mão, e ele escolhia alguns de entre nós para ler o nosso texto e completá-lo, sendo preciso, com explicações orais. Politzer criticava ou felicitava, e provocava entre os alunos uma breve discussão; depois, concluía, extraindo dela ensinamentos. Esta durava cerca de meia hora, e permitia aos que tinham faltado ao curso anterior preencher a lacuna e fazer a ligação com o que tinham aprendido anteriormente; isto permitia também ao professor verificar em que medida fora compreendido; insistia, em caso de necessidade, nos pontos delicados ou obscuros.

Começava, então, a lição do dia, que durava cerca de uma hora; depois, os alunos faziam perguntas sobre o que acabava de ser dito. Tais perguntas eram geralmente interessantes e judiciosas; Politzer aproveitava para fornecer elementos necessários e retomar o essencial do curso, sob um ângulo diferente.

Georges Politzer, que tinha um conhecimento aprofundado da sua matéria e uma inteligência de uma admirável maleabilidade, preocupava-se, antes de mais, com as reações do seu auditório. Tirava, de vez em quando, a “temperatura” geral, e verificava, constantamente, o grau de assimilação dos alunos. Deste modo, era seguido por eles com um interesse apaixonado. Contribuiu para a formação de milhares de militantes, e, deles, muitos são os que hoje ocupam lugares “de responsabilidade”.

Nós, que compreendíamos o valor desse ensino e pensávamos em todos os que não o podiam ouvir, particularmente nos nossos camaradas de província, desejávamos publicar os seus cursos. Ele prometia pensar nisso, mas, no meio do seu imenso trabalho, nunca encontrava tempo para realizar tal projeto.

Foi então que, no decurso do meu segundo ano de filosofia na Universidade Operária, onde fora criado um curso superior, tive ocasião de pedir a Politzer para me corrigir os trabalhos, e lhe entreguei novamente, a seu pedido, os meus cadernos de curso. Achou que estavam bem feitos, e propus-lhe redigir, a partir dos meus apontamentos, as lições do curso elementar. Encorajou-me a isso, prometendo-me revê-las e corrigi-las. Infelizmente, não encontrou tempo para tal. Sendo as suas ocupações cada vez mais árduas, deixou o curso superior de filosofia ao nosso amigo René Maublanc. Pus este ao corrente dos nossos projetos, e pedi-lhe para rever as primeiras lições que tinha redigido. Aceitou solicitamente, incitando-me a acabar esse trabalho, que devíamos, depois, apresentar a Georges Politzer. Mas veio a guerra: Politzer devia encontrar uma morte heroica na luta contra a ocupação hitleriana.

Embora o nosso professor já não estivesse entre nós para ultimar um trabalho que tinha aprovado e encorajado, julgámos útil publicá-lo, com base nos meus apontamentos.

Georges Politzer, que iniciava todos os anos o seu curso de filosofia na Universidade Operária fixando o verdadeiro sentido da palavra materialismo, e protestando contra as deformações caluniosas a que alguns a sujeitam, recordava energicamente que ao filósofo materialista não falta ideal, e que está pronto a combater para o fazer triunfar. Soube, a partir de então, prová-lo pelo seu sacrifício, e a sua morte heroica ilustra esse curso inicial, em que afirmava a união, no marxismo, da teoria e da prática. Não é inútil insistir sobre esta dedicação a um ideal, esta abnegação e este alto valor moral, numa época em que, de novo, se ousa apresentar o marxismo como “uma doutrina que faz do homem uma máquina, ou um animal apenas superior ao gorila ou ao chimpanzé” (Sermão de quaresma em Notre-Dame de Paris, pronunciado, em 18 de Fevereiro de 1945, pelo rev.° padre Panici).

Não protestaremos nunca bastante contra tais ultrajes à memória dos nossos camaradas. Recordamos somente àqueles que têm a audácia de os proferir o exemplo de Georges Politzer, de Gabriel Péri, de Jacques Solomon, de Jacques Decour, que eram marxistas e ensinavam na Universidade Operária de Paris: todos bons camaradas, simples, generosos, fraternos, que não hesitavam em consagrar uma boa parte de seu tempo, vindo a um bairro perdido ensinar aos operários a filosofia, a economia política, a história ou as ciências.

A Universidade Operária foi dissolvida em 1939. Reapareceu, no dia seguinte à Libertação, sob o nome de Universidade Nova. Uma nova equipa de professores devotados, fazendo a rendição dos que tombaram, veio dar continuidade à obra interrompida.

Nada nos pode encorajar mais nesta tarefa essencial do que render homenagem a um dos fundadores e animadores da Universidade Operária, e nenhuma nos parece mais justa e útil do que publicar os Princípios elementares de filosofia de Georges Politzer.

Maurice Le Goas

Os problemas filosóficos

Introdução

Por que devemos estudar a filosofia?

Propomo-nos, no decurso desta obra, apresentar e explicar os princípios elementares da filosofia materialista. Porquê? Porque o materialismo está intimamente ligado a uma filosofia e a um método: os do materialismo dialético. É, pois, indispensável estudar essa filosofia e esse método, para na verdade compreender o marxismo e refutar os argumentos das teorias burguesas, assim como para empreender uma luta política eficaz.

Com efeito, Lênin disse: ”Sem teoria revolucionária, não há movimento revolucionário”.[1 1] Isto quer dizer, antes de mais: é preciso juntar a teoria à prática.

O que é a prática? É o ato de realizar. Por exemplo, a indústria, a agricultura realizam (isto é: tornam reais) certas teorias (teorias químicas, físicas ou biológicas).

O que é a teoria? É o conhecimento das coisas que queremos realizar.

Pode ser-se apenas prático - mas, então, realiza-se por rotina. Pode ser-se apenas teórico - mas, então, o que se concebe é muitas vezes irrealizável. É preciso, portanto, que haja ligação entre a teoria e a prática. A questão é saber quais devem ser essa teoria e a sua ligação com a prática. Pensamos que é necessário ao militante operário um método de análise e de raciocínio justo para poder realizar uma ação revolucionária justa. Que lhe é preciso um método que não seja um dogma, dando-lhe soluções acabadas, mas um método que tenha em conta fatos e circunstâncias que nunca são os mesmos, um método que nunca separe a teoria da prática, o raciocínio da vida. Ora, esse método está contido na filosofia do materialismo dialético, base do marxismo, que nos propomos explicar.

O estudo da filosofia é uma coisa difícil?

Pensa-se, geralmente, que o estudo da filosofia é, para os operários, uma coisa cheia de dificuldades, necessitando conhecimentos especiais. Ê preciso confessar que a maneira como estão redigidos os manuais burgueses tem a intenção de os levar a pensar desse modo, e não pode senão aborrecê-los. Não pensamos negar as dificuldades que o estudo, em geral, comporta, e o filosofia, em particular; mas estas dificuldades são perfeitamente superáveis, e ocorrem, sobretudo, pelo facto de se tratar de coisas novas para muitos dos nossos leitores.

Desde o início, vamos, por outro lado, precisando as coisas, chamá-los a rever certas definições de palavras que estão deturpadas na linguagem corrente.

O que é a filosofia?

Vulgarmente, entende-se por filósofo: ou àquele que vive nas nuvens, ou o que toma as coisas pelo lado bom, aquele que nada faz. Ora, muito ao contrário, o filósofo é aquele que quer, a certas perguntas, dar respostas precisas, e, se se considerar que a filosofia quer dar uma explicação aos problemas do universo (de onde vem o mundo? para onde vamos? etc), vê-se, por conseguinte, que o filósofo se ocupa de muitas coisas, e, ao contrário do que dizem, trabalha muito.

Diremos, portanto, para definir a filosofia, que ela quer explicar o universo, a natureza, que é o estudo dos problemas mais gerais. Os menos gerais são estudados pelas ciências. A filosofia é, pois, um prolongamento das ciências, no sentido em que se apoia nas ciências e delas depende.

Acrescentaremos, em seguida, que a filosofia marxista utiliza um método de resolução de todos os problemas, e que tal método depende do que se chama o materialismo.

O que é a filosofia materialista?

Também aí existe uma confusão, que devemos denunciar imediatamente; é vulgar entender-se por materialista aquele que só pensa em gozar com os prazeres materiais. Jogando com a palavra materialismo — que contém a palavra matéria —, chegou a dar-se-lhe um sentido completamente falso.

Vamos, estudando o materialismo — no sentido científico da palavra —, restituir-lhe o seu verdadeiro significado; ser materialista, não impede, iremos vê-lo, de ter um ideal e de lutar para o fazer triunfar.

Dissemos que a filosofia quer dar uma explicação aos problemas mais gerais do mundo. Mas, no decurso da história da humanidade, esta explicação não foi sempre a mesma.

Os primeiros homens procuraram, na verdade, explicar a natureza, o mundo, mas não o conseguiram. O que permite, com efeito, explicar o mundo e os fenômenos que nos rodeiam são as ciências; ora, as descobertas que permitiram às ciências progredir são muito recentes.

A ignorância dos primeiros homens era, pois, um obstáculo às suas investigações. Por isso é que no decurso da História, por causa desta ignorância, vemos surgir as religiões, que querem explicar, também elas, o mundo, mas por forças sobrenaturais. É esta uma explicação anticientífica. Ora, como, pouco a pouco, no decurso dos séculos, a ciência se vai desenvolver, os homens vão tentar explicar o mundo através de fatos materiais, a partir de experiências científicas, e é daí, desta vontade de explicar as coisas pelas ciências, que nasce a filosofia materialista.

Nas páginas seguintes, vamos estudar o que é o materialismo, mas, desde já, devemos fixar que o materialismo não é mais do que a explicação científica do universo.

Estudando a história da filosofia materialista, veremos quanto foi áspera e difícil a luta contra a ignorância. É preciso, aliás, constatar que, mesmo nos nossos dias, esta luta não terminou ainda, uma vez que o materialismo e a ignorância continuam a subsistir juntos, lado a lado.

É no coração desta luta que Marx e Engels intervieram. Compreendendo a importância das grandes descobertas do século XIX, permitiram à filosofia materialista fazer enormes progressos na explicação científica do universo. Foi assim que nasceu o materialismo dialético. Depois, os primeiros, compreenderam que as leis que regem o mundo permitem também explicar a evolução das sociedades; formularam, assim, a célebre teoria do materialismo histórico.

Propomo-nos estudar, nesta obra, primeiramente, o materialismo, depois, o materialismo dialético e, por fim, o materialismo histórico. Mas, antes de mais, queremos estabelecer as relações entre o materialismo e o marxismo.

Quais são as relações entre o materialismo e o marxismo?

Podemos resumi-las da seguintes maneira:

  1. A filosofia do materialismo constitui a base do marxismo.
  2. Esta filosofia materialista, que quer dar uma explicação científica aos problemas do mundo, progride, no decurso da História, ao mesmo tempo que as ciências. Por consequência, o marxismo tem origem nas ciências, apoia-se nelas e evolui com elas.
  3. Antes de Marx e Engels, houve, em várias etapas e sob formas diferentes, filosofias materialistas. Mas, no século XIX, dando as ciências um grande passo em frente, Marx e Engels renovaram esse materialismo antigo, a partir das ciências modernas, e deram-nos o materialismo moderno, a que se chama materialismo dialético, e que constitui a base do marxismo.

Vemos, por estas breves explicações, que a filosofia do materialismo, contrariamente ao que dizem, tem uma história. Esta está intimamente ligada à das ciências. O marxismo, baseado no materialismo, não teve origem no cérebro de um só homem. É o resultado, a continuação do materialismo antigo, que estava já muito avançado em Diderot. O marxismo é a manifestação do materialismo desenvolvido pelos Enciclopedistas do século XVIII, enriquecido pelas grandes descobertas do século XIX. O marxismo é uma teoria viva, e, para mostrar imediatamente de que maneira considera os problemas, vamos tomar um exemplo que toda a gente conhece: o problema da luta de classes.

Que pensam as pessoas sobre tal assunto? Uns, que a defesa do pão isenta da luta política. Outros, que basta lutar na rua, negando a necessidade de organização. Outros, ainda, pretendem que só a luta política trará uma solução a este problema. Para o marxismo, a luta de classes compreende:

  1. Uma luta econômica.
  2. Uma luta política.
  3. Uma luta ideológica.

O problema deve, pois, ser posto, simultaneamente, nestes três campos;

  1. Não se pode lutar pelo pão sem lutar pela paz, sem defender a liberdade e todas as ideias que servem a luta por tais objetivos.
  2. O mesmo acontece na luta política, que, depois de Marx, se tornou uma verdadeira ciência: é-se obrigado a ter em conta, ao mesmo tempo, a situação econômica e as correntes ideológicas para conduzir essa luta.
  3. Quanto à luta ideológica, que se manifesta pela propaganda, deve ter-se em consideração, para que seja eficaz, a situação econômica e política.

Vemos, pois, que todos estes problemas estão intimamente ligados e, assim, que não é possível decidir face a qualquer aspecto deste grande problema que é a luta de classes - numa greve, por exemplo -, sem tomar em consideração cada dado do problema e o conjunto do próprio problema.

É, portanto, aquele que for capaz de lutar em todos os campos que dará ao movimento a melhor direção.

É assim que um marxista compreende este problema da luta de classes. Ora, na luta ideológica que devemos conduzir todos os dias, encontramo-nos perante problemas difíceis de resolver: imortalidade da alma, existência de Deus, origens do mundo, etc. É o materialismo dialético que nos dará um método de raciocínio, que nos permitirá resolver todos estes assuntos e, de igual modo, descobrir todas as campanhas de falsificação do marxismo, que pretendem completá-lo e renová-lo.

Campanhas da burguesia contra o marxismo

Estas tentativas de falsificação apoiam-se em bases muito variadas. Procura-se levantar contra o marxismo os autores socialistas do período pré-marxista (antes de Marx). É assim que vemos, muitas vezes, utilizar contra Marx os “utopistas”. Outros servem-se de Proudhon; outros, ainda, bebem nos revisionistas de antes de 1914 (portanto magistralmente refutados por Lênin). Mas o que interessa sobretudo sublinhar é a campanha de silêncio que a burguesia faz contra o marxismo. Particularmente, tudo tem feito para impedir que seja conhecida a filosofia materialista sob a sua forma marxista. Impressionante a este respeito é o conjunto do ensino filosófico tal como é dado em França.

Nos estabelecimentos de ensino secundário, ensina-se a filosofia. Mas pode acompanhar-se todo esse ensino sem jamais aprender que existe uma filosofia materialista elaborada por Marx e Engels. Quando, nos manuais de filosofia, se fala de materialismo (porque é conveniente falar nisso), o marxismo e o materialismo são sempre abordados em separado. Apresenta-se o marxismo, em geral, unicamente como uma doutrina política, e, quando se fala do materialismo histórico, não se fala a este respeito da filosofia do materialismo; enfim, ignora-se tudo do materialismo dialético.

Esta situação não existe somente nas escolas e liceus: é exatamente a mesma nas Universidades. O facto mais característico é que pode ser-se, em França, um “especialista” da filosofia, munido dos diplomas mais distintos que as Universidades francesas passam, sem saber que o marxismo tem uma filosofia, que é o materialismo, e sem saber que o materialismo tradicional tem uma forma moderna, que é o marxismo, ou materialismo dialético.

Nós, queremos demonstrar que o marxismo comporta uma concepção geral, não apenas da sociedade, mas, ainda, do próprio universo. É, pois, inútil, contrariamente ao que alguns pretendem, lamentar que o grande defeito do marxismo seja a sua falta de filosofia, e querer, como alguns teóricos do movimento operário, ir à procura dessa filosofia que falta ao marxismo. Porque o marxismo tem uma filosofia, que é o materialismo dialético.

Porém, apesar desta campanha de silêncio, apesar de todas as falsificações e precauções tomadas pelas classes dirigentes, o marxismo e a sua filosofia começam a ser cada vez mais conhecidos.

O problema fundamental da filosofia

Como devemos começar o estudo da filosofia?

Na nossa introdução, dissemos, várias vezes, que a filosofia do materialismo dialético era a base do marxismo.

O fim a que nos propomos é o estudo dessa filosofia; mas, para chegar a ele, é preciso avançarmos por etapas.

Quando falamos do materialismo dialético, deparamo-nos com duas palavras: materialismo e dialético, o que quer dizer que o materialismo é dialético. Sabemos que antes de Marx e Engels o materialismo existia já, mas que foram estes, com a ajuda das descobertas do século XIX, que o transformaram e criaram o materialismo “dialético”.

Examinaremos, mais tarde, o sentido da palavra “dialético”, que designa a forma moderna do materialismo. Mas, visto que, antes de Marx e Engels, houve filósofos materialistas (por exemplo, Diderot, no século XVIII), e visto que há pontos comuns em todos os materialistas, é-nos, pois, necessário estudar a história do materialismo, antes de abordar o materialismo dialético. É-nos preciso conhecer, igualmente, as concepções que se opõem ao materialismo.

Duas maneiras de explicar o mundo

Vimos que a filosofia é o “estudo dos problemas mais gerais”, e que tem por fim explicar o mundo, a natureza, o homem. Se abrirmos um manual de filosofia burguesa, ficamos espantados com o grande número de filosofias diversas que aí se encontram. São designadas por múltiplas palavras, mais ou menos complicadas, terminando em “ismo”: o criticismo, o evolucionismo, o intelectualismo, etc, e esta quantidade cria a confusão. A burguesia, aliás, nada fez para esclarecer a situação, antes pelo contrário. Mas, podemos já fazer a triagem de todos esses sistemas, e distinguir duas grandes correntes, duas concepções nitidamente opostas:

  1. A concepção científica.
  2. A concepção não científica do mundo.

A matéria e o espírito

Quando os filósofos tentaram explicar o mundo, a natureza, o homem, tudo o que nos rodeia, enfim, foram levados a fazer distinções. Nós próprios constatamos que há coisas, objetos que são materiais, que vemos e tocamos. Depois, outras realidades que não vemos e não podemos tocar, nem medir, como as nossas ideias.

Classificamos, portanto, assim as coisas: por um lado, as que são materiais; por outro, as que não o são, e pertencem ao domínio do espírito, do pensamento, das ideias.

Foi assim que os filósofos se encontraram em presença da matéria e do espírito.

O que é a matéria? O que é o espírito?

Acabamos de ver, de uma maneira geral, como se foi levado a classificar as coisas, conforme são matéria ou espírito.

Mas devemos precisar que esta distinção se faz sob diversas formas e com palavras diferentes.

É assim que, em vez de falar do espírito, falamos, afinal, do pensamento, das nossas ideias, da nossa consciência, da alma, assim como, falando da natureza, do mundo, da terra, do ser, é da matéria que se trata.

Assim, ainda quando Engels, no seu livro Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã, fala do ser e do pensamento, o ser é a matéria; o pensamento, o espírito.

Para definir o que é o pensamento ou o espírito, o ser ou a matéria, diremos:

O pensamento é a ideia que fazemos das coisas; algumas dessas ideias vêm-nos ordinariamente das nossas sensações e correspondem a objetos materiais; outras, como as de Deus, filosofia, infinito, do próprio pensamento, não correspondem a objetos materiais. O essencial, que devemos fixar aqui, é que temos ideias, pensamentos, sentimentos, porque vemos e sentimos.

A matéria ou o ser é o que as nossas sensações e percepções nos mostram e apresentam, é, duma maneira geral, tudo o que nos rodeia, a que se chama o “mundo exterior”. Exemplo: a minha folha de papel é branca. Saber que é branca é uma ideia, e são os meus sentidos que me dão tal ideia. Mas a matéria é a própria folha.

É por isso que, quando os filósofos falam das relações entre o ser e o pensamento, ou entre o espírito e a matéria, ou entre a consciência e o cérebro, etc, tudo isso diz respeito à mesma pergunta, e significa: qual é, da matéria ou do espírito, do ser ou do pensamento, o termo mais importante? Qual é o que é anterior ao outro? Tal é a interrogação fundamental da filosofia.

A pergunta ou o problema fundamental da filosofia

Não há ninguém que não se tenha interrogado em que nos tornamos depois da morte, de onde vem o mundo, como se formou a Terra. E é-nos difícil admitir que sempre existiu qualquer coisa. Tem-se tendência em pensar que num dado momento nada haveria. É por isso que é mais fácil acreditar no que ensina a religião: “O espírito pairava sobre as trevas... depois veio a matéria”. Do mesmo modo, perguntamo-nos onde estão os nossos pensamentos, e, assim, põe-se-nos o problema das relações que existem entre o espírito e a matéria, entre o cérebro e o pensamento. Há, aliás, muitas outras maneiras de pôr a questão. Por exemplo, quais são as relações entre a vontade e o poder? A vontade é, aqui, o espírito, o pensamento; e o poder é o que é possível, é o ser, a matéria. Encontramos, assim, muitas vezes, a questão das relações entre a “consciência social” e a “existência social”.

A pergunta fundamental da filosofia apresenta-se, pois, sob diferentes aspectos, e vê-se quanto é importante reconhecer sempre a maneira em que se põe este problema das relações da matéria e do espírito, uma vez que sabemos que só pode haver duas respostas a essa pergunta:

  1. Uma resposta científica.
  2. Uma resposta não científica.

Idealismo ou materialismo

Foi assim que os filósofos foram levados a tomar posição nesta importante questão.

Os primeiros homens, completamente ignorantes, não tendo nenhum conhecimento do mundo, nem deles próprios, e não dispondo senão de fracos meios técnicos para agir sobre o mundo, atribuíam a seres sobrenaturais a responsabilidade de tudo o que os espantava. Na sua imaginação, excitada pelos sonhos em que viam viver os seus semelhantes e eles próprios, chegaram à concepção de que cada um de nós tinha uma dupla existência. Perturbados pela ideia deste “duplo”, chegaram a imaginar que os seus pensamentos e sensações eram produzidos, não pelo seu próprio corpo,

“mas por uma alma particular, habitando nesse corpo e deixando-o na hora da morte”[1 2]

Em consequência, nasceu a ideia da imortalidade da alma e de uma possível vida do espírito fora da matéria.

Do mesmo modo, a sua fraqueza, a inquietação perante as forças da natureza, face a todos esses fenômenos que não compreendiam, e que o estado da técnica não lhes permitia corrigir (germinação, tempestades, inundações, etc), levam-nos a supor que, por trás dessas forças, há seres onipotentes, “espíritos” ou “deuses” benéficos ou maléficos, mas, em todo o caso, caprichosos.

Por igual razão, criam em deuses, em seres mais poderosos do que os homens, mas imaginavam-nos, sob a forma de homens ou animais, como corpos materiais. É somente mais tarde que as almas e os deuses (depois o Deus único que substituiu os deuses) foram concebidos como puros espíritos.

Chega-se então à ideia de que há na realidade espíritos que têm uma vida inteiramente específica, completamente independente da dos corpos, e que não têm necessidade deles para existir.

Assim, tal assunto pôs-se de uma maneira mais precisa em função da religião, sob esta forma:

O mundo foi criado por Deus ou existe desde sempre? Conforme respondiam desta ou daquela maneira a tal pergunta, os filósofos dividiam-se em duas grandes facções.[1 2]

Os que, adotando a explicação não científica, admitiam a criação do mundo por Deus, isto é, afirmavam que o espírito tinha criado a matéria, formavam a facção do idealismo.

Os outros, os que procuravam dar uma explicação científica do mundo, e pensavam que a natureza, a matéria era o elemento principal, pretendam às diferentes escolas do materialismo.

Na origem, estas duas expressões, idealismo e materialismo, não significavam outra coisa senão isso.

O idealismo e o materialismo dão, pois, duas respostas opostas e contraditórias ao problema fundamental da filosofia.

O idealismo é a concepção não-científica. O materialismo é a concepção científica do mundo.

Ver-se-á, mais adiante, as provas desta afirmação, mas podemos dizer, desde já, que: se se constata bem, na experiência, que há corpos sem pensamento, como as pedras, os metais, a terra, não se constata nunca, pelo contrário, a existência do espírito sem corpo.

Para terminar este capítulo com uma conclusão sem equívoco, veremos que, para responder a esta pergunta: como é que o homem pensa? não pode haver mais do que duas respostas, inteiramente diferentes e totalmente opostas:

  1. O homem pensa porque tem uma alma.
  2. O homem pensa porque tem um cérebro.

Conforme dermos uma ou outra resposta, estaremos preparados para dar soluções aos problemas que resultam desta questão.

Segundo a nossa resposta, seremos idealistas ou materialistas.

O idealismo

O materliasmo

Quem tem razão, o idealismo ou o materialismo?

Há uma terceira filosofia? O agnosticismo

Notas

O materialismo filosófico

A matéria e os materialistas

Que significa ser materialista?

História do materialismo

Estudo da metafísica

Em que consiste o “método metafísico”

Estudo da dialética

A mudança dialética

A ação recíproca

A contradição

Transformação da quantidade em qualidade ou leio do progresso por saltos

O materialismo histórico

As forças motrizes da história

De onde vêm as classes e as condições econômicas?

O materialismo dialético e as ideologias

Aplicação do método dialético às ideologias