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Biblioteca:Princípios fundamentais de filosofia

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Prefácio

Publicados em junho de 1946, reeditados em janeiro de 1947, em maio de 1948 e em dezembro de 1949, os Princípios elementares de filosofia de Georges Politzer foram acolhidos com entusiasmo! Con­tinham eles, sob normas acessível, o essencial dos cursos administra­dos de 1935 a 1936 na Universidade Operária por um daqueles que jamais separou a ação do pensamento, e morreu como herói para que a França vivesse.

No Prefácio aos Princípios elementares de filosofia, Maurice le Gross, que, como discípulo de Politzer, recolheu seus cursos e possi­bilitou assim sua publicação, escrevia:

Georges Politzer, que começava cada ano seu curso de filosofia fi­xando o verdadeiro sentido da palavra «materialismo» e protestando contra as deformações caluniosas a que alguns a submetiam, não se esquecia de assinalar que ao filósofo materialista não falta ideal e que ele está pronto a combater para fazê-lo triunfar. Pôde, então, provâ-lo com seu sacrifício, e sua morte heróica ilustra êste curso inicial, em que afirma a união, no marxismo, da teoria com a prática. A alguns meses de uma decisão ministerial que pretendeu recusar a Georges Politzer o título póstumo de interno-resistente e a menção de “Morto pela França”, a homenagem devida à sua memória, não poderia, agora mais do que nunca, separar o patriarca francês, do filósofo comunista.

As balas nazistas prostaram Politzer na clareira de Mont-Valérien, em maio de 1942. Mas, a Universidade Operária, que foi, em gran­de parte, obra sua, tem continuidade na Universidade Nova de Paris, que cada ano mais se amplifica. De fato, os Princípios Fundamentais de Filosofia que agora publicamos se apoiam, como a obra original, na experiência de ensinamentos filosóficos dispensados aos trabalha­dores — operários, empregados, domésticos, pesquisadores científicos, professores primários e estudantes etc. — que frequentam a Universi­dade Nova. É justo, portanto, que o livro traga — antes dos nomes daqueles que o redigiram e que assistiram, com alguns outros, ao cur­so de materialismo dialético — o nome de Georges Politzer. Por certo, estes Princípios de filosofia são muito mais desenvolvidos do que os Princípios elementares; beneficiam-se das contribuições que enrique­ceram a ciência marxista nestes últimos anos. Contudo, sua inspira­ção não deixa de ser aquela que animava Politzer.

Os Princípios fundamentais de filosofia têm por ambição ajudar aqueles que queiram se iniciar nas idéias-mestras de Marx e Engels e de seus discípulos mais eminentes, Lenine e Stalin. A obra tem, portanto, as características de um manual, dividido em lições, em sequência. Os cursos da Universidade Nova, a que este livro deve sua existência, destinam-se a trabalhadores que buscam pela reflexão teó­rica esclarecer sua ação militante — política ou sindical — na França de hoje. Não se surpreendam, pois, com a abundância de exemplos tomados da vida quotidiana dos franceses, que lutam pelo pão e pela liberdade, pela independência nacional e pela paz.

Mas, contrariamente a uma opinião ainda muito difundida, quando os marxistas falam de prática, não a entendem num sentido estreito. A prática humana é o conjunto das atividades — ciências, técnicas, artes etc. — das quais, o homem é capaz, e que o definem; é tôda a experiência acumulada em milênios. Só pode ser revolucionário aquele que souber assimilar o melhor dessa experiência, em benefício de sua ação presente, para a transformação das sociedades e a melhoria dos indivíduos. Tal é, precisamente, a tarefa da filosofia: concepção do mundo, ela exprime, sob sua forma mais geral, as leis fundamentais da natureza e da história; método de análise, dá a qualquer homem os méios de compreender o que ele é, o que ele faz e o que ele po­derá fazer em dado momento, para transformar sua própria existência. Inteiramente consagrado à filosofia marxista, o livro que apresentamos deve, pois, parece-nos, prestar serviços a todos os trabalhadores, ma­nuais ou intelectuais. E, ainda que não tenha sido redigido tendo em vista os "especialistas", sejam eles economistas, engenheiros, his­toriadores, naturalistas, médicos ou artistas, todos encontrarão nêle, sem dúvida, assunto para reflexão.

Os autores esforçam-se por escrever esta obra com o máximo de simplicidade e de clareza; evitaram multiplicar os tèrmos técnicos. Mas, procedendo assim, percorreram apenas a metade do caminho. O lei­tor deverá, pacientemente, percorrer a outra metade, sem se esque­cer, por um instante sequer — como o lembrava Marx por ocasião da edição francesa de O Capital — que "não há estrada real para a ciência." A leitura das vinte e quatro lições que compõem êste livro exigirá, pois, certo trabalho e alguma perseverança.

Se determinadas páginas não forem compreendidas numa primeira leitura, não perca, o leitor, a coragem! O trabalho será, contudo, fa­cilitado, se o leitor comparar o que leu com sua experiência pessoal. Assim, tirará ele maior proveito de um estudo pacientemente con­duzido.

O volume contém numerosas citações, numerosas referências aos clássicos do marxismo. Corremos o risco de tornar pesada a exposição, mas aceitamos esse risco, como decorrência da natureza da obra, que é um manual. Seu papel é o de facilitar o acesso às fontes, encorajar o leitor, pelas frequentes lembranças, a se familiarizar com as obras de Marx, Engels, Lenin, Stalin, Mao Zedong e Maurice Thorez. Os autores de Princípios de filosofia destacaram particularmen­te o Sobre o materialismo dialético e o materialismo histórico, de Stalin, que, com Lenin, é o maior filósofo de nosso tempo. A ordem das lições deste manual reproduz, de propósito, no essencial, a ordem dos as­suntos da obra de Stalin, síntese magistral da filosofia do marxismo, que apareceu em 1938. A leitura dessa obra, que se encontrará, tanto no Capítulo IV da História do Partido Comunista da U.R.S.S., como em edição separada, torna-se indispensável a todos os que queiram dominar os dados essenciais do marxismo e compreender seu poder de ação.

Fiéis aos seus princípios, os marxistas vêem na crítica uma exigên­cia de tôda ação fecunda. É por isso que os autores dos Princípios fundamentais de filosofia solicitam a contribuição de todos aqueles que fizerem uso deste livro. Assim sendo, ele poderá ser melhorado, para desempenhar melhor seu papel, a serviço da classe trabalhadora e do povo francês.

Guy Besse & Maurice Caveing
Agrégés de philosophie, agosto de 1954