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O ''humanismo real'' não tem, na Alemanha, inimigo mais perigoso do que o ''espiritualismo'' – ou ''idealismo especulativo'' –, que, no lugar do ''ser humano individual e verdadeiro'', coloca a “''autoconsciência''” ou o “''espírito''” e ensina, conforme o evangelista: “O espírito é quem vivifica, a carne não presta”. Resta dizer que esse espírito desencarnado só tem espírito em sua própria imaginação. O que nós combatemos na Crítica ''baueriana'' é justamente a ''especulação'' que se reproduz à maneira de ''caricatura''. Ela representa, para nós, a expressão mais acabada do princípio ''cristão-germânico'', que faz sua derradeira tentativa ao transformar a crítica em si numa força transcendental.
Nossa exposição se atém principalmente ao “Jornal Literário Geral” de ''Bruno Bauer'' – e seus oito primeiros cadernos estavam a nosso dispor –, porque é ali que a Crítica baueriana, e com ela o despropósito da ''especulação alemã como um todo'', alcançam o ápice. A Crítica crítica<ref group="p">Em alemão: ''kritische Kritik''. Para diferenciar o substantivo do adjetivo – em português ambos são escritos de maneira exatamente igual, ao contrário do que acontece no alemão –, manteremos o primeiro em maiúscula. Além da diferença, estará sendo mostrada a ênfase especial e a análise diferenciada – e crítica – que Marx e Engels dão à Crítica de Bruno Bauer e seus consortes.</ref> (ou seja, a crítica do “Jornal Literário”) torna-se tanto mais instrutiva quanto mais converte a inversão da realidade, empreendida através da filosofia, na mais plástica das comédias. Veja-se, por exemplo, ''Faucher'' e ''Szeliga''. O “Jornal Literário” oferece um material à luz do qual também o grande público poderá ser informado a respeito das ilusões da filosofia especulativa. E é essa a finalidade de nosso trabalho.
Nossa exposição naturalmente é condicionada por seu ''objeto''. Em regra, a Crítica crítica se encontra abaixo das alturas alcançadas pelo desenvolvimento teórico alemão. A natureza de nosso objeto justifica, portanto, o fato de ''aqui'' não ''avaliarmos'' esse mesmo desenvolvimento.
A Crítica crítica obriga, muito antes, a mostrar a validade dos resultados já disponíveis ''como tais'', opondo-os aos resultados que ela alcançou.
É por isso que antepomos essa polêmica aos escritos propriamente ditos, nos quais nós – cada um por si, entenda-se<ref group="p">A autoria específica dos artigos aparece definida no Índice. ''A sagrada família'' é o resultado do trabalho conjunto de Marx e Engels e foi encaminhada a partir do segundo encontro dos dois pensadores, em agosto de 1844, em Paris. A contribuição de Marx é bem maior – e a avaliação é apenas volumétrica – que a de Engels, e reúne suas anotações acerca dos ''Manuscritos econômico-filosóficos'' bem como suas anotações acerca da Revolução Francesa. O livro é – descontadas as duas contribuições de Marx aos ''Anais franco-alemães'' (''Deutsch-Französische Jahrbücher''), quais sejam: “Crítica da filosofia do direito de Hegel. Introdução” e “Sobre a questão judaica” – o único escrito rigorosamente filosófico do período precoce publicado pela intervenção direta dos autores. Obras como os ''Manuscritos de Paris'' (''Pariser Manuskripte''), ''Sobre a crítica do Estado de direito hegeliano'' (''Zur Kritik des Hegelschen Staatsrechts'', 1843, publicada apenas em 1927), de Marx, ou até mesmo ''A ideologia alemã'' (''Deutsche Ideologie'', 1846, publicada apenas em 1932), que os dois também escreveram juntos, seriam publicadas apenas postumamente. ''A sagrada família'' apareceria já em fins de fevereiro de 1845.</ref> – haveremos de expor nossa visão positiva, e com ela nossa atitude positiva ante as novas doutrinas filosóficas e sociais.
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=== Notas ===
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Edição das 16h19min de 3 de janeiro de 2021

A sagrada família
Escrito porKarl Marx & Friedrich Engels
Escrito emNovembro de 1844
Publicado 1ª vezFevereiro de 1845
TipoLivro

Prefácio

O humanismo real não tem, na Alemanha, inimigo mais perigoso do que o espiritualismo – ou idealismo especulativo –, que, no lugar do ser humano individual e verdadeiro, coloca a “autoconsciência” ou o “espírito” e ensina, conforme o evangelista: “O espírito é quem vivifica, a carne não presta”. Resta dizer que esse espírito desencarnado só tem espírito em sua própria imaginação. O que nós combatemos na Crítica baueriana é justamente a especulação que se reproduz à maneira de caricatura. Ela representa, para nós, a expressão mais acabada do princípio cristão-germânico, que faz sua derradeira tentativa ao transformar a crítica em si numa força transcendental.

Nossa exposição se atém principalmente ao “Jornal Literário Geral” de Bruno Bauer – e seus oito primeiros cadernos estavam a nosso dispor –, porque é ali que a Crítica baueriana, e com ela o despropósito da especulação alemã como um todo, alcançam o ápice. A Crítica crítica[p 1] (ou seja, a crítica do “Jornal Literário”) torna-se tanto mais instrutiva quanto mais converte a inversão da realidade, empreendida através da filosofia, na mais plástica das comédias. Veja-se, por exemplo, Faucher e Szeliga. O “Jornal Literário” oferece um material à luz do qual também o grande público poderá ser informado a respeito das ilusões da filosofia especulativa. E é essa a finalidade de nosso trabalho.

Nossa exposição naturalmente é condicionada por seu objeto. Em regra, a Crítica crítica se encontra abaixo das alturas alcançadas pelo desenvolvimento teórico alemão. A natureza de nosso objeto justifica, portanto, o fato de aqui não avaliarmos esse mesmo desenvolvimento.

A Crítica crítica obriga, muito antes, a mostrar a validade dos resultados já disponíveis como tais, opondo-os aos resultados que ela alcançou.

É por isso que antepomos essa polêmica aos escritos propriamente ditos, nos quais nós – cada um por si, entenda-se[p 2] – haveremos de expor nossa visão positiva, e com ela nossa atitude positiva ante as novas doutrinas filosóficas e sociais.

Engels & Marx
Paris, setembro de 1844

Notas

  1. Em alemão: kritische Kritik. Para diferenciar o substantivo do adjetivo – em português ambos são escritos de maneira exatamente igual, ao contrário do que acontece no alemão –, manteremos o primeiro em maiúscula. Além da diferença, estará sendo mostrada a ênfase especial e a análise diferenciada – e crítica – que Marx e Engels dão à Crítica de Bruno Bauer e seus consortes.
  2. A autoria específica dos artigos aparece definida no Índice. A sagrada família é o resultado do trabalho conjunto de Marx e Engels e foi encaminhada a partir do segundo encontro dos dois pensadores, em agosto de 1844, em Paris. A contribuição de Marx é bem maior – e a avaliação é apenas volumétrica – que a de Engels, e reúne suas anotações acerca dos Manuscritos econômico-filosóficos bem como suas anotações acerca da Revolução Francesa. O livro é – descontadas as duas contribuições de Marx aos Anais franco-alemães (Deutsch-Französische Jahrbücher), quais sejam: “Crítica da filosofia do direito de Hegel. Introdução” e “Sobre a questão judaica” – o único escrito rigorosamente filosófico do período precoce publicado pela intervenção direta dos autores. Obras como os Manuscritos de Paris (Pariser Manuskripte), Sobre a crítica do Estado de direito hegeliano (Zur Kritik des Hegelschen Staatsrechts, 1843, publicada apenas em 1927), de Marx, ou até mesmo A ideologia alemã (Deutsche Ideologie, 1846, publicada apenas em 1932), que os dois também escreveram juntos, seriam publicadas apenas postumamente. A sagrada família apareceria já em fins de fevereiro de 1845.