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Ruy Berbert nasceu em 1947, na cidade de Regente Feijó, interior de São Paulo. Filho de Ottília Vieira Berbert e Ruy Thales Jaccoud Berbert e irmão de Regina Vieira Berbert, Ruy foi um garoto como todos os outros, peralta, comunicativo, brincava na rua, frequentava a escola, chegou até a jogar futebol pelo time infanto-juvenil do Vasco da Gama.
Já na adolescência foi embora de sua terra natal após ser aprovado no vestibular de Letras da USP, em São Paulo. Com isso, passou a dar aulas de português e redação em vários cursinhos pré-vestibulares. Na Universidade pôde se instruir politicamente e começou a participar do grêmio estudantil, sendo responsável pelo Departamento de Agitação e Propaganda.
Em 2 de outubro de 1968, participou da “Batalha da Maria Antônia”, quando membros do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), da Frente Anticomunista (FAC) e Movimento Anticomunista (MAC), que estudavam na Faculdade Mackenzie, atacaram alunos da Faculdade de Filosofia da USP, ligados a União Estadual dos Estudantes (UEE). O conflito se estendeu até o dia seguinte, resultando na morte do secundarista José Guimarães.
No dia 12 de outubro, Ruy é preso por participar do 30º Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), em Ibiúna (SP). Após a prisão retornou à sua terra natal, onde ficou por apenas 15 dias. Essa foi a última vez que os pais e a irmã o viram.
Após visitar sua família, Ruy voltou ao Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (Crusp), onde morava. Junto a outros companheiros do Crusp, continuou com sua tarefa de panfletagem, incentivando greves e manifestações políticas. Em seguida ampliou sua luta nos movimentos sociais estudantis ingressando no GTA (Grupo de Trabalho Araguaia), da ALN (Aliança Libertadora Nacional), até que foi obrigado a se retirar do país.
Logo após a morte de Carlos Marighella, líder da ALN, em 1969, Ruy e seus companheiros foram para Cuba, onde fizeram treinamento de guerrilha e criaram o Molipo (Movimento de Libertação Popular). Já como militante do Molipo, retornou de Cuba em 1971. Como ficou em Cuba por dois anos, não tinha muita ideia da proporção do que o aguardava em terras brasileiras. A barbárie aumentava e já se matava sem distinção, assim o movimento foi praticamente dizimado quando ingressou no Brasil. Vários integrantes do Molipo foram torturados e assassinados, muitos deles tiveram seus corpos ocultados, assim como Ruy.
No dia 31 de dezembro de 1971, Ruy foi detido na cidade de Natividade, hoje no estado de Tocantins, portando documentação com o nome de João Silvino Lopes. Em 2 de janeiro de 1972, seu corpo foi encontrado pendurado em uma isolada prisão da cidade. Tinha, na época, apenas 24 anos de idade. Como de praxe, foi alegado pelo governo militar, de forma cínica, que ele havia se suicidado após ser preso pelos agentes do DOI-CODI. Segundo relatos, Berbert, antes de morrer, teria quebrado em pedacinhos uma caixa de fósforo e, com os pedaços, escreveu no piso da cadeia a palavra "Revolução" e com o tubo de pasta dental improvisou o desenho da foice e martelo.
Até 1979 não havia nenhuma informação sobre o paradeiro de Ruy Carlos, preso, identificado e sepultado como João Silvino Lopes. Sua morte foi confirmada pelo General Adyr Fiúza de Castro, em declaração publicada na Folha de São Paulo, em janeiro de 1979.
Em junho de 1991, a Comissão de Investigação das Ossadas de Perus recebeu da Pastoral da Terra um atestado de óbito em nome de João Silvino Lopes. Em janeiro de 92, a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos encontrou nos arquivos do DOPS/SP um documento que constava o nome de Ruy Carlos. Somente então foi possível relacionar o nome de Ruy com João Silvino. Além disso, nos documentos do DOPS do Paraná foi encontrada, na gaveta "falecidos", a ficha de Ruy Carlos Vieira Berbert.
Em maio de 1993, sua família depositou uma urna funerária contendo antigos pertences pessoais de Ruy em jazigo na cidade de Jales (SP), onde haviam se mudado, enterrando-o simbolicamente.