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O feudalismo foi um modo de produção dominante na Europa ocidental que perdurou do século V ao XV. Outras regiões também utilizaram-se desse modo de produção em diferentes períodos da história. O modo de produção feudal é caracterizado pelas relações de senhoria e vassalagem entre os servos e os senhores feudais. Os servos eram tratados como sendo parte da propriedade privada dos senhores feudais, e ao contrário de escravos, tinham direitos e deveres definidos pela religião católica e pela tradição feudal.
O trabalho mais comum entre os servos, no qual se dedicava a maior parte da população, era a agricultura. Entre os servos campesinos, a maior parte do tempo era gasta trabalhando sob a Corveia, um imposto onde os servos deviam trabalhar nas terras dos senhores, em que os frutos de seu trabalho seriam apropriados. Durante uma pequena parte do ano, no entanto, lhes era permitida plantar em terras próprias, geralmente compradas dos senhores ou de outros servos a preços extremamente altos. Tamanha era a disparidade entre renda e preço das terras, que não era incomum um servo viver toda a sua vida apenas para conquistar uma terra ligeiramente maior para seus antepassados. Além disso, as terras dos servos também eram, geralmente, as terras mais exaustas do feudo, e portanto com menor produtividade. Durante grande parte do período, os filhos dos servos também eram concedidos, como servos, aos senhores feudais.
Os servos se submetiam a tais condições de exploração em troca de proteção militar e terras seguras para plantar. Além disso, eram concedidos aos trabalhadores a permissão de uso dos ofícios, que continham maquinaria necessária para fazer ferramentas e roupas. De forma variada pelo período, também haviam comerciantes, que eram homens livres vendendo produtos do extremo oriente, ferramentas, e outras mercadorias úteis aos servos e aos senhores.
Com o passar dos séculos, se desenvolve cada vez mais a indústria e a tecnologia. Com isso, alguns dos servos mais habilidosos se tornam ferreiros, carpinteiros, tecelões, e outras profissões. Esses servos são chamados de artesãos, e existem durante boa parte do feudalismo. Assim como os comerciantes, os artesãos tinham condições de vida melhores que os servos campesinos.
As relações de produção do feudalismo são o que Perry Anderson descreve como "uma unidade orgânica de economia e política" com subdivisões de soberania. Senhores feudais possuíam suas terras, meios de produção, exércitos, uma própria corte e sistema próprio de leis.[1] O feudalismo europeu estabelece fortes conexões das classes dominantes com o estado por estabelecer relações militares com a posse de terras.[2] Também era característico a herança das terras e a hereditariedade dos títulos entre a nobreza feudal. Todas essas características também eram fundamentais em outras sociedades feudais, fora da Europa.
Há também diferentes teorias políticas sobre o conceito de feudalismo adaptadas a diferentes realidades e processos históricos. Karl Marx trata especificamente do feudalismo europeu em sua análise sobre o capitalismo, e busca fundamentar as características deste sem cometer o erro de generalizar suas relações sociais na Europa como sendo inerentes do modo de produção feudalista. O desenvolvimento de formulações sobre o feudalismo em outras realidades é particularmente desenvolvido com a criação dos partidos comunistas no inicio do século XX.
Fim do feudalismo na Europa[editar | editar código-fonte]
Karl Marx descreve e examina em sua obra O capital, vol. I os processos sociais provenientes do feudalismo do século XVI no interior da Inglaterra pelo nome de acumulação primitiva. A expropriação gradual da população de suas terras nos chamados "cercamentos", criou nos antigos entrepostos comerciais grandes cidades industriais. Os donos das grandes minas de carvão se uniram ou venderam, pelo decorrer dos séculos, suas posses, consolidando cada vez mais a classe burguesa, diminuindo numericamente seu tamanho. Já os camponeses expulsos de suas terras vieram a ser proletários, forçados a vender sua força de trabalho em troca de sobrevivência. Essa transformação das relações sociais, e a transferência e acumulação dos meios de produção entre poucos burgueses em detrimento das antigas guildas, transformaram as cidades antigas em cidades modernas, lenta e permanentemente transformando o modo de produção feudalista inglês no berço do capitalismo mundial.
Com o desenvolvimento do capitalismo na Inglaterra, o Capital Inglês passa a se internacionalizar, exercendo também pressão em outros países da Europa ocidental, com os quais o país tinha relevantes relações comerciais. O colonialismo é instrumentalizado para a reprodução do capital, e nasce então o capitalismo mercantil, também chamado de mercantilismo, acelerando ainda mais o processo de acumulação primitiva do capital através da apropriação capitalista para além das fronteiras nacionais da Inglaterra.
É importante notar que existe um debate, no marxismo, sobre as razões exatas pelas quais o feudalismo inglês do sec XVI abriu caminho para relações de produção capitalistas, embora não haja dúvidas sobre os ocorridos.[3][4]
No restante da Europa, processos muito similares acontecem, e a economia dos países da Europa vai adquirindo cada vez mais e mais um caráter capitalista. Os estado-nação passam a ser estabelecidos, e políticas mercantilistas de acumulação de ouro e prata passam a ser implementados, aprofundando o processo de acumulação primitiva de capital, e financiando o desenvolvimento de infraestrutura portuária e industrial nos países Europeus, ao custo da brutal exploração das colônias. No século XV, já se pode falar plenamente em capitalismo.
Desenvolvimentos posteriores acentuaram a contradição entre poder político real, representado pela capacidade de comandar trabalho, que se concentrava cada vez mais na burguesia, e o poder político formal dos nobres. Tais contradições culminam, ao final do século XVIII, na revolução francesa, em que o feudalismo é finalmente abolido, iniciando o processo que estabelece o capitalismo enquanto modo de produção hegemônico na Europa.
Por região[editar | editar código-fonte]
Ásia[editar | editar código-fonte]
Europa Ocidental[editar | editar código-fonte]
Europa Oriental[editar | editar código-fonte]
- ↑ Perry Anderson (1974). Linhagens do Estado Absolutista (Inglês: Linages of the Absolutist State). [PDF] Editora Brasiliense S. A.. ISBN 85-11-13049-7
- ↑ https://en.prolewiki.org/wiki/Library:A_Marxist_History_of_the_World:_From_Neanderthals_to_Neoliberals
- ↑ The Brenner debate revisited (2010-01-02).
- ↑ Neha Sharma. Dobb-Sweezy debate on transition from feudalism to capitalism. [PDF]