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Introdução e objetivo do ensaio
Pretendo fazer aqui uma crítica ao texto do camarada Forte: "Ensaio:O esquerdismo moderno". Antes de começar, notem que não tenho nenhuma "rivalidade" ou problema pessoal com o camarada, muito pelo contrário, sustento profunda admiração pelo seu trabalho e consistência ideológica. Claro, nada disso me impede de escrever um ensaio em crítica a um dos seus textos. Acho importante frisar que as discordâncias aqui são ideológicas (e pontuais, já que concordo com a vasta maior parte de suas posição), e não pessoais, pois alguns camaradas acabam levando para o pessoal, o que nunca é frutífero.
Meu objetivo com esse artigo não é propriamente contestar as conclusões do camarada sobre o socialismo na China ou outros Estados Socialistas, mas sim, negar que seu ensaio tenha a qualidade necessária para fazer as afirmações que se propõe a fazer, isto é, de que os Estados Socialistas terem lidado bem com a pandemia de Covid 19 é prova, ou sequer indicativo, da "gritante diferença entre o estado qualitativo de uma sociedade socialista e de um Estado burguês". Sua "tese" de que "não é coincidência que os Estados Socialistas" tenham lidado melhor com a pandemia, é, na verdade, apenas um artifício retórico que busca convencer os camaradas de sua posição, mas sem provar cientificamente o caráter de classe destes estados. Ou seja, um argumento anti-marxista, que nega a análise crítica ao inferir que o caráter de Classe do Estado chinês pode ser averiguado pela "gritante diferença" entre este estado e outros estados burgueses.
Afirmar com base na resposta que um Estado da à pandemia que este estado é socialista, ou sequer apenas sociologicamente superior a outro estado (ou qualitativamente superior, como diz o camarada), é uma afirmação errônea com base material insuficiente, ainda que a conclusão possa estar correta. O objetivo deste artigo é provar e convencer o leitor desta última afirmação.
Acho importante também frisar algumas concordâncias. Primeiro, tenho total acordo com a crítica do camarada ao Esquerdismo de setores da esquerda brasileira. Nesse sentido, concordo com o tema que dá nome ao ensaio: não se pode concluir que a China é capitalista ou uma ditadura da burguesia apenas por ter uma economia de mercado, e seria esquerdismo negar a luta do país apenas por não se conformar aos textos de filósofos mortos a centenas de anos. Pois, por mais que Marx e Friedrich Engels tenham fundado um método de análise absolutamente certeiro, estes também são humanos, e é inegável que muitas de suas hipóteses se confirmaram, enquanto que outras não o fizeram.
Não é possível entender o caráter de classe de uma sociedade sem entender o seu modo de produção e a composição de classe de seu governo e estado. Fazer essa análise, critica-la, refina-la, e eventualmente socializa-la, é o único método capaz de consolidar uma compreensão crítica sobre o caráter de um determinado estado. Tal análise também não pode ser feita por um único camarada, ainda que alguns camaradas tendam a se destacar mais do que outros no desenvolvimento de uma análise crítica da realidade chinesa, em especial os camaradas nativos do país. Porém, é dever dos marxistas-leninistas ler tais análises quando estiverem prontas e compreender o estado geral das coisas na China. Outros métodos, como inferir a partir de diferentes dados e eventos o caráter de um estado, são insuficientes, na medida em que não tem o cuidado científico típico do marxismo-leninismo.
A pandemia da Covid no Brasil e nos EUA
Concordo ainda com mais algumas coisas: primeiro, o Brasil e os Estados Unidos da América de fato não estavam preocupados em limitar o alcance do Covid-19. Isto é, ambos os estados burgueses e seus governos não tinham o interesse político de parar a pandemia. O Brasil, mesmo com uma estrutura de saúde entre as mais robustas do mundo,[1][2] subutilizou o próprio sistema por determinações políticas, ignorando múltiplas propostas de oferecimento de vacinas da Pfizer e CoronaVac,[3] boicotando institutos públicos de pesquisa como o Butantã,[4] enquanto impulsionava noticias falsas sobre medicamentos ineficazes.[5] Esse boicote geral a qualquer solução para a pandemia não se limitou a ser contrário as medidas de restrição de movimento de pessoas e Mercadorias, que iriam no curto prazo enfraquecer a Economia do país, mas também significou o boicote da produção e utilização de vacinas e até mesmo o boicote do uso de máscaras.[6] Isso levou o Brasil a ter uma das piores respostas a pandemia que vimos no mundo inteiro.
Já no caso dos EUA, podemos separar sua resposta em governo federal e governos estaduais, dado que suas respostas foram em maior ou menor medida diferentes, ainda que ambos os governos sejam claramente dominados pela classe burguesa. O governo federal, além de não ter um sistema de saúde público universal,[7] não tem a capacidade técnica-administrativa para parar completamente a pandemia, dado que, pela sua formação politico-organizativa, a federação não é capaz de interferir nos direitos de dos estados tão facilmente. Prova disso é a disputa que houve entre o estado do Texas, republicano, e o governo federal dos EUA, a época democrata, sobre qual das duas entidades burguesas teria controle sobre a fronteira do Texas com o México.[8] Já as medidas "cabíveis", desde que não necessitassem que o governo federal entrasse em muitos conflitos políticos, foram tomadas, como a limitação dos aeroportos, assistências para as famílias que não podiam trabalhar, ou o incentivo para a aplicação das vacinas.[9]
Já os governos estaduais, que nos EUA gozam de autonomia incomparável a qualquer outro lugar do mundo, também estão solidamente nas mãos da burguesia, porém, mesmo estes ainda diferiram entre si em sua resposta a pandemia. Estados governados pelo partido democrata tiveram menos mortes que estados governados pelo partido republicano, e o mesmo também ocorre para índices de vacinação e atividade econômica.[10] Essa diferença ocorre justamente por terem tomado diferentes precauções contra o vírus. Ainda assim, nenhum estado ou território pertencente aos EUA teve a capacidade politico-organizativa de parar a pandemia, tanto por falta de interesse político como também por falta de capacidade organizativa. Mesmo que um estado isolado tivesse vontade política de parar completamente a pandemia e limitar ao máximo o número de mortes, o que não aconteceu, ainda assim este estado hipotético não seria capaz de parar a pandemia dentro de suas próprias fronteiras, por estar sujeito às respostas e autonomias de outros estados. Mesmo um estado como Wyoming, por exemplo, não poderia impedir que pessoas infectadas vindas de outros estados vizinhos entrassem em seu território, e tampouco teria autonomia constitucional para fazer quarentenas intransigentes como as feitas em cidades da China, mesmo estas tendo sido comprovadas como absolutamente necessário.
Então, ainda que a resposta dos EUA não tenha sido uniforme entre suas instâncias governamentais, foi hegemônico o descaso e a falta de preparo com a pandemia da Covid-19. Quero que fique estabelecido essa concordância que tenho com o camarada. No entanto, o camarada usou apenas o Brasil e os EUA para a comparação ao afirmar que os países socialistas foram "qualitativamente" superiores em abordagem. Ao invés disso, deveríamos ver como outros estados capitalistas se comparam com China ou Cuba, nos mesmos parâmetros apresentados pelo camarada Forte.
A pandemia em África
A China teve 85 mortes por milhão de habitantes. Cuba teve 771 mortes por milhão, e o Vietnam teve 433. Porém, muitos dos países africanos tiveram taxas inferiores a esses países, tanto de infecção/contaminação, como também de mortes. A Nigéria teve 14 mortes registradas por milhão de habitantes, com 267 mil casos em um país de 223 milhões de pessoas. A República Democrática do Congo também teve 14 mortes registradas por mihão de habitantes, com 101 mil casos e uma população de 102 milhões. Burkina Faso teve 17 mortes registradas por milhão, com 22 mil casos e uma população de 23 milhões de pessoas.[11] Esses dados se repetem em múltiplos países africanos, em que, para cada um milhão de pessoas, em torno de mil casos de Covid acontecem.
Claro, isso também aconteceu pois estes estados não tem a capacidade de reportar todos os casos que acontecem, justamente por terem infraestruturas deficitárias. Contudo, ainda me é estranho que as taxas de mortalidade por caso de Covid sejam tão altas, dados os números. Quer dizer, se realmente a quantidade de mortes for sub-notificada, então a mortalidade (% de pessoas que morrem após conseguirem a doença) da Covid-19 na África, que já é (pelos dados reportados) algumas vezes maior que na Colombia ou no Brasil, pode ser vezes maior, e a depender do grau de subnotificação, talvez até dezenas de vezes maior (o que não seria suficiente, no entanto, para igualar a taxa de um país como a Nigéria a um país como o Brasil). É díficil de imaginar que a taxa de mortalidade seja tão mais alta assim, e essa explicação sozinha não me parece plausível. Também é notável que sua imigração é muito menor que países Europeus, o que contribui para que o vírus não se dissemine tanto. Mas, claro, muitos países Africanos estiveram entre os primeiros a fechar suas fronteiras para voos internacionais,[12] ao contrário da Europa, mesmo que essa ação também fosse possível de ser tomada pelos estados europeus.
Considerando estes fatores, não é estranho que os EUA, Brasil ou outros países Europeus tenham, muitas vezes, uma taxa de mortes por milhão de habitantes 200 vezes maior que esses países Africanos? Não é estranho que muito destes países fizeram quarentenas tão "firmes" em sua organização como a de Cuba, claro, respeitadas as suas respectivas condições nacionais?[13] Quer dizer então que um estado capitalista pode lidar de forma radicalmente melhor com a pandemia que outro estado capitalista? Ou isso significaria que a Nigéria é qualitativamente superior à outros estados capitalistas por ter fechado o transito em sua capital antes de todos os países da Europa? Ou seria a Burkina Faso na verdade socialista?
Afinal de contas, a Burkina Faso é ou não socialista?
Sabemos que a Burkina Faso vem nacionalizando suas principais minas de ouro.[14] Os sistemas de construção foram reformados, e hoje o país constrói escolas e hospitais com infraestrutura inovadora[15] capaz de diminuir os custos de manutenção, além de serem feitas especificamente para aumentar a possibilidade de que os Burkinabés consigam se aproveitar destas instituições de forma universal. Ao contrário dos EUA, Burkina Fasso tem um sistema de saúde universal, ainda que não seja tão acessível quanto o SUS brasileiro. Estes fatores, somados ao fato de que o primeiro ministro é abertamente marxista e "Sankarista",[16] e o líder da junta militar que comanda o país já participou de grupos marxistas,[17] não seriam provas suficientes para que os comunistas considerem que a classe dominante do estado Burkinabé é o proletariado? Não seria suficiente para afirmar que o país é ao menos uma ditadura do proletariado?
Veja camarada, nenhum destes dados e referencias que providenciei mostram ou sequer indicam que o país seja socialista ou qualitativamente superior. Todos podem ser plenamente alcançados dentro dos limites de um estado burguês, desde que o governo esteja comprometido com um projeto de libertação nacional. Estes fatos são apenas isso: "fatos jogados", melhorias pontuais, falas de primeiros ministros e presidentes, e etc, coisas que colaboram pontualmente com o argumento, mas que de forma alguma comprovam o caráter de classe do estado Burkinabé. Nada do que eu escrevi comprova que a gerência da crise foi melhor na Nigéria do que nos países da Europa, porque, para isso, seria necessário uma análise criteriosa, científica e cuidadosa do país. Há de se considerar que é mais fácil para o Capital fechar os aeroportos na Nigéria do que fechar os aeroportos na Alemanha, haja vista o influxo de pessoas e seu impacto econômico. Então, esse fechamento dos aeroportos também não diz nada sobre a soberania que a Nigéria tem sobre o Capital.
Não deve ser necessário dizer, além disso, que um governo capitalista que se propõe a desenvolver um país também tem interesse em diminuir seus custos administrativos com infraestrutura, também tem interesse em aumentar a capacidade técnica da sua população, também tem interesse em manter controle de indústrias estratégicas. Líderes populistas historicamente se utilizaram de termos e símbolos populares, como "comunismo", "socialismo", ou a foice e o martelo, para atrelar empatia a sua imagem. Um exemplo disso é Lula, o atual presidente da república, que frequentemente se gabava de ser "socialista", dizendo que "eleição não é tudo".[18] Claro, trata-se de oportunismo do mais descarado, mas não muda o fato de que humanos podem mentir. Justamente por isso, os comunistas entendem que "a prática é o critério da verdade": apenas as ações das pessoas e partidos, analisadas de forma científica, podem comprovar o seu caráter individual. O mesmo se aplica aos Estados e virtualmente qualquer outra organização de Classe.
O que impede, fundamentalmente, que sejamos capazes de dizer que Burkina Faso é socialista, ou sequer uma ditadura do proletariado, é muito simples. Nós carecemos do entendimento e da leitura de uma análise crítica, feita e inserida na realidade nacional do país, capaz de avaliar e explicar a composição de classe do estado Burkinabé, assim como o modo de produção e a forma de distribuição de mercadorias na sociedade. Sem o entendimento dessa realidade que só pode vir de uma análise científica, ou seja, sem uma análise propriamente marxista de Burkina Faso, não é possível dizer qualquer coisa sobre o caráter de classe do estado, e nos resta dar apoio crítico ao país contra o imperialismo Yankee e Europeu.
Nessa mesma linha, peço encarecidamente que quaisquer análises científicas sejam divulgadas e priorizadas na construção da Wiki, em detrimento de artifícios retóricos falaciosos como "A China é socialista pois acabou com a educação privada", "A China não é imperialista pois perdoou a dívida de países na África", ou então "Os países pretensamente socialistas lidaram bem com a pandemia, o que é evidência de que são socialistas", como o que o camarada Forte fez pelo decorrer do texto. Entendo perfeitamente que esses artigos e notícias tenham papel fundamental na agitação e na propaganda, e ainda mais, papel fundamental na construção do imaginário popular de uma alternativa ao capitalismo. Estes artigos facilitam o trabalho dos comunistas, na medida em que podemos apontar para a China, ou Cuba, ou a Coreia Popular, e dizer "é isso que eu quero", ou "viu como é possível fazer as mudanças que proponho aqui?". Os exemplos reais desmistificam as propostas e trazem elas para o plano do concreto. Também compreendo que a vasta maioria da população jamais leu ou irá ler qualquer artigo científico detalhado sobre a luta de classes na China e a composição classista de seu estado. Porém, entendo que o papel do ProleWiki deva ser o de socializar o conhecimento, facilitando o desenvolvimento do marxismo-leninismo de forma crítica, e não propriamente o papel de "difundir" as ideias marxistas. Essa segunda tarefa é dos jornais populares e veículos de comunicação marxistas-leninistas.
Considerações finais
Antes de finalizar, gostaria de fazer uma última distinção: O fato de que eu não considero a China socialista é baseado na minha falta de entendimento de como se dá a luta de classes na China, e não se dá por um entendimento simplista (o qual eu repudio) de que "se tem mercado é capitalista". Uma coisa é avaliar criticamente o estado das coisas de forma científica e se abster de falar quando não se sabe do que está falando, como é o meu caso (já que também não digo que a China é capitalista, por exemplo), e outra coisa completamente diferente é fazer afirmações sobre a realidade nacional de um país a milhares de quilômetros de distância, usando como base escritos de 200-300 anos atrás, como os esquerdistas fazem.
No meu caso, eu não sei até em que medida a burguesia Chinesa dita a política interna e externa do país, não sei em qual medida as instituições de estado Chinesas são feitas ou gerenciadas pelo Capital, ou sequer como se da a produção e distribuição das mercadorias criadas no país. Tenho apenas algumas informações jogadas, e é justamente por isso que não faço afirmações sobre o caráter de classe do estado Chinês. Só poderia faze-lo mediante a leitura de uma análise científica cuidadosa, o que até o momento de escrita deste texto ainda não o fiz. Por esse mesmo motivo, estou totalmente aberto a ser "convertido" para qualquer posição que for. Saudaria com grande entusiasmo, inclusive, recomendações de leituras (especialmente em inglês, já que posso traduzi-las para a wiki depois de ler, ainda que demore algum tempo).
Com profunda atenção e carinho, camarada Ferreira.
- ↑ "Maior sistema público de saúde do mundo, SUS completa 31 anos". UNA-SUS. Acessado 05/02/2025.
- ↑ Maria Eduarda Vieira. "Brasil ocupa 17ª colocação no ranking de países com saúde inclusiva" Band News. Acessado 05/02/2025.
- ↑ Matheus Magenta. "Vacinas teriam salvado 95 mil vidas se governo Bolsonaro não tivesse ignorado ofertas, calcula pesquisador" BBC News Brasil. Acessado 05/02/2025.
- ↑ Valdo Cruz. "Negligência do governo Bolsonaro com vacina do Butantan foi maior do que com a Pfizer, diz Calheiros" O Globo. Acessado 05/02/2025.
- ↑ Lucas Borges Teixeira. "Bolsonaro reproduz fake news para atacar possíveis remédios contra covid" UOL. Acessado 05/02/2025.
- ↑ Catarina Barbosa. "Bolsonaro veta obrigatoriedade do uso de máscaras em comércio, templos e igrejas" Brasil de Fato. Acessado 05/02/2025.
- ↑ Claire Bowes. "Por que os EUA foram a única potência ocidental a rejeitar o sistema de saúde universal após a 2ª Guerra Mundial" BBC News Brasil. Acessado 05/02/2025.
- ↑ Holly Yan, Rosa Flores e Sara Weisfeldt. "Fronteira vira epicentro de disputa entre Texas e autoridades federais nos EUA; entenda" CNN Brasil. Acessado 05/02/2025.
- ↑ Maegan Vazquez, Kate Sullivan, Tami Luhby e Katie Lobosco. "Primeiros 100 dias de Biden na presidência dos EUA: o que já foi feito" CNN Brasil. Acessado 05/02/2025.
- ↑ "Nos EUA, regiões republicanas têm mais mortes por Covid-19 do que as democratas, aponta levantamento". O Globo. Acessado 05/02/2025.
- ↑ "Explore our data on COVID-19". Our World in Data. Acessado 03/02/2025.
- ↑ Norberto Paredes. "Coronavírus: o que está por trás da aparente resistência da África à pandemia" BBC News Brasil. Acessado 05/02/2025.
- ↑ Israel Campos. "Por que África é um dos continentes com 'menos mortes' por Covid?" BBC News Brasil. Acessado 05/02/2025.
- ↑ "Burkina Faso nacionaliza minas de ouro". Hora do Povo. Acessado 05/02/2025.
- ↑ Èlia Borràs. "Burkina Faso constrói escolas que se mantêm frescas no calor de 40°C" Artigo por The Guardian, tradução por Green Building Council Brasil. Acessado 05/02/2025.
- ↑ Bruno Jaffré. "Appolinaire Jean Kyelem de Tembela : “j’ai toujours voulu faire un livre sur la révolution”" Thomas Sankara. Acessado 05/02/2025.
- ↑ Sophie Douce. "Au Burkina Faso, le capitaine Ibrahim Traoré, le président énigmatique qui défie la France" Le Monde. Acessado 05/02/2025.
- ↑ "Roda Viva Retrô | Luiz Inácio Lula da Silva | 1986". Roda Viva. Acessado 05/02/2025.